quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ano novo, tudo igual

Ano novo, vida nova, hora de festejar o que teve de bom em 2007, esquecer as coisas ruins e desejar à todos tudo de bom pra 2008. Nesses momentos o mundo é maravilhoso, mas por que? Que tem de mais numa virada de ano? Não deixa de ser uma virada de mês, de dia, de hora, de minuto, segundo, etc. Eu, reunido com pseudo parentes, todos desconhecidos pra mim, meus pais os conheciam. Quantas pessoas, umas trinta, sim, mais uma festa para um fóbico, que maravilha, chegar em algum lugar, ter de cumprimentar todas as pessoas. O pânico se instaurou em mim, olhava assustado pra tudo aquilo, fiquei com medo de que percebessem, senti meus olhos arregalados denunciando meu pavor, mesmo assim, timidamente, eu, como um pateta, fui atrás da minha mãe cumprimentando todos que ela cumprimentava. Mesmo assim, uma prova de fogo. Muita tensão. E não parava de chegar gente, menos mal, que eles tinham de vir me cumprimentar, mesmo assim, muita tensão. O medo é irracional, parava eu e respirava fundo relaxa meu corpo, à essa hora todos os músculos estavam contraídos, a taquicardia se manifestava intensamente.

Mas a festa, mal havia começado, muito tempo eu teria pela frente, muita gente ainda chegaria, tendo passado a chegada e os cumprimentos, só me preparava pra janta, outra tarefa difícil pra mim, ficava eu olhando para uma bola, pequena, mais ou menos 15 cm de raio, pendurada na calha ou algo parecido. Servia como enfeite de natal, tinha luzes piscantes, mas piscavam lentamente, diminuíam e aumentavam a intensidade vagarosamente. Eu a fitei, ela pareceu me encarar, parecia me condenar, seus lentos movimentos luminosos pareciam me dizer que a festa ia fazer de tudo pra me derrubar, senti mais medo olhando pra ela, mas aos poucos fui sentido tristeza, e parei de olhá-la. Virei para o infinito e tentei relaxar enquanto torcia para que ninguém viesse conversar comigo.

Mas nada feito, algo parecia estar de sacanagem comigo, como se não bastasse algumas pessoas me falarem sobre aproveitar a vida ao máximo e no exato momento, o que já me deixava pra baixo, haja visto que me acontecia justamente o contrário, alguém ainda pergunta pra minha mãe: “Cadê tua nora?” Eu, como olhava para o infinito, fingi que não ouvi, mesmo assim meu pai me cutucou e me perguntou: “Ouviu o que ele disse?” Respondi que não, então a pessoa repete a pergunta: E tua nora? Sorriso sem mostrar os dentes junto com um gemido breve tipo: “hmmm”. Minha única e patética reação perante isso. Fiquei mais pra baixo ainda, como se não bastasse eu sempre estar sofrendo com esses meus problemas que a timidez me causa, parece que as pessoas ainda têm a necessidade de ficarem me lembrando e cobrando isso. A noite não ia me deixar em paz. Várias vezes meu sentimento era uma necessidade de fuga, sentia que precisa sair dali. Não podia, não tinha como, apesar de olhar os limites do terreno e ver que era algo bem fácil.
Hora da janta, pra minha surpresa, consegui me servir tranqüilamente, as coisas estariam mudando? Não, apesar de jantar sem me incomodar, logo após, vieram conversar um pouco comigo, uma pessoa só, eu até queria continuar a conversa, mas é incrível como travo nessas horas, minhas respostas curtas e grossas, provavelmente afastaram a pessoa, provavelmente pensou que eu era um grosso e nojento. É o preço que se paga por ser tímido.

Pouco tempo depois, a tão esperada virada de ano, champagne, champagne, champagne, mas não adiantou, nem com os 2mg de rivotril que tomei durante a festa, me adiantaram pra me deixar mais solto, já tava tonto, desejei feliz ano novo à quem me veio desejar, os que não vieram, não fui, fiquei num canto, viesse quem quisesse, culpa minha de não ter abraçado todo mundo? Sim, mas culpa deles também. Alguém passa por mim e, sem querer, esbarra em meu braço, meu champagne voa pra minha camisa,alguns considerariam problema, pra mim, perto da minha timidez, passou batido aquilo.
E segue a noite, sair mais cedo que os outros, significa ir até as pessoas e se despedir, resultado, fui, junto com os meus pais, o último a ir dormir, assim, os que iam saindo tinham de vir até mim se despedir, difícil ainda, porém muito menos que se fosse eu que me dirigisse a eles. Dormir lá, numa casa estranha, de gente estranha, ainda foi melhor que vir embora cedo.
Porém, por dormir às 7:00, fui também o que acordei mais tarde, o que significa, chegar e dar bom dia a todos, por sorte, quando acordei, todos já estavam à mesa, dei um oi geral e ficou por isso mesmo. Pra sair, pouca gente, foi difícil me despedir, mas foram poucas despedidas.

Saí bem de lá? Meu corpo, apesar dos músculos retraídos, do coração à mil, de todas as tensões, sim, mas minha alma não, minha alma continua arrasada, até porque, em meio às pessoas felizes, sorrindo, interagindo, estava lá eu só, olhando pro vazio, até olhar pra cima, e ver uma estrela, sozinha no céu, me deu vontade de jogar uma corda e subir até ela, me identifiquei com ela, mas a vontade de subir era novamente o desejo de uma fuga abrupta que me tirasse daquele horror. Horror pra mim, só pra mim, os outros estavam bem, pros outros a festa foi o que realmente desejavam, ainda mais com música ao vivo, alguns dançavam, eu olhava e apenas escutava as músicas. Enquanto eu sofria observando as pessoas rindo, o podre músico boêmio cantava:


Azul da Cor do Mar

Tim Maia

Composição: Tim Maia

Ah!
Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi...

E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri

Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...

Ver na vida algum motivo
Prá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...

Mas quem sofre
Sempre tem que procurar
Pelo menos vir achar
Razão para viver...

Ver na vida algum motivo
Prá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...


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